Ageaquete: Hugo, explique-nos,
por favor, o que aconteceu com você? Entendo que não queira mais participar da
associação, mas precisava reagir tão violentamente contra todos que sempre te
respeitaram? Por que tanto ódio nesse seu coraçãozinho?
Hugo: Em primeiro lugar, minha
reação não foi contra TODOS, em quanto pessoas - pois não tive, nem tenho, nada
contra ninguém-, mas sim contra um comportamento que é, infelizmente, praticado
por todos da Associação. Foco minhas
críticas no líder da Associação, pois ele é o precursor e sustentador deste
comportamento.
Em segundo lugar, não posso
imaginar como minha reação poderia ser diferente. Não estamos falando aqui de
fazer cara feia para um prato de comida ou para uma pessoa antipática. Reagir
contra muitas coisas da vida é inútil e infantil. Mas minha reação neste caso
foi contra uma mentira no campo ESPIRITUAL. Na escala das coisas importantes,
talvez seja o que de há de mais importante. Não podemos, depois de perceber esta
mentira, dizer: “agradeço toda ajuda que vocês me deram! Mas prefiro me retirar
nestes momentos, quem sabe um dia nosso caminhos se encontram novamente”. Quem
age assim não identificou a mentira, mas só está atestando sua incapacidade de
seguir um caminho que leve a Verdade, desconhecendo até mesmo o por quê. Ou pode ser que até tenha
identificado, mas não é capaz de reagir contra ela. Quando não se reage internamente,
não se pode reagir externamente. Ou seja, de duas uma: ou é um fraco ou um
covarde...
E finalmente, para mim, a mentira,
quando compreendida, provoca, obrigatoriamente, aversão, repulsa e ódio. Não estou entre os
que crêem que o ódio seja um sentimento abominável. Estes fingem que nada
odeiam, que agem sempre pelo puro amor — mas na verdade não se pode amar o que
quer que seja sem odiar aquilo que o nega ou ameaça. A escolha não é entre amor
e ódio, mas entre diferentes objetos de amor e de ódio. A perversão lingüística
que fez do ódio e do amor respectivamente sinônimos do mal e do bem só serviu
para desorientar as pessoas e disseminar a hipocrisia que ama o bem sem odiar o
mal ou odeia o mal sem amar o bem. Essa perversão é um dos mecanismos mais
insidiosos de esvaziamento do cristianismo para trocá-lo por um
pseudocristianismo (...). Cristo, ao contrário de todos os Gandhis de
Hollywood, jamais condenou o ódio. O que Ele disse foi: "Na verdade, amais
o que devíeis odiar e odiais o que devíeis amar". 1
A – Entendo teus argumentos, mas
não entendo a razão deste ódio ser lançado contra a associação. A única coisa
que queremos promover é o bem e a paz mundial.
H – Discursos são coisas fáceis
de fazer. Mas acredito que não estamos aqui para falar bonito como num concurso
de Miss Universo. O que está em jogo são nossas vidas. O problema dos gnósticos
é que eles vivem num mundo utópico, ideal. Todos os dados que arbitram os
conflitos presentes provêm deste mundo abstrato. É impossível conversar com eles baseando-se
estritamente na realidade. Eu acredito que a vivência espiritual deve caminhar
lado a lado com a realidade. Quando perguntaram a Jesus, como identificar a
Verdade Espiritual (neste caso, do próprio Jesus), Ele respondeu: “Contem o que
ouviram e viram: os cegos enxergam e os paralíticos andam, os leprosos ficam
limpos, os surdos ouvem e os mortos se levantam”. Ou seja, se o próprio Jesus, com
esta passagem, nos ensina que a chave para identificar a autenticidade do mundo
espiritual é basear-se em suas repercussões REAIS e CONCRETAS, porque
deveríamos fazer o contrário e nos limitar a um discurso doutrinal? Se perguntássemos
aos gnósticos sobre suas Associações: “Contem o que ouviram e viram”, o que
eles nos diriam?
A – Pois vimos muitas coisas! Você
não pode negar que entre as Associações gnósticas, a AGEAC é a que deu mais
certo, não?
H – Se “dar certo” é publicar vários
livros, construir templos, ter seguidores nos cinco continentes então creio que
vocês deveriam dar o título de Avatara à Sathya Sai Baba. Creio que devemos
considerar “dar certo” como a contribuição efetiva que se dá a cada indivíduo,
não importa quantos sejam...
A – Mas é justamente isso que
estamos tentando fazer. Estamos sacrificando nossas vidas para promover o bem.
Todos os nossos esforços são em vão para você?
H – Não nego que possam ajudar
uma pessoa ou fazer um bem efetivo a quem quer que seja. Isto depende da
capacidade e vontade de cada um, não importando onde se esteja. O que estou
dizendo é que o ambiente da associação é altamente prejudicial. Por mais que um
bem provisório seja feito, o mal que a Associação causa, sempre prevalece. No final,
a manipulação e o fanatismo absorvem a todos. Repito, para chegar a esta
conclusão, estou me baseando na realidade e não nas intenções angelicais de
cada um de vocês.
A – Tudo bem! Mas qual realidade
você está vendo que nós não estamos!?!? Por acaso você é superior a todos nós!?
H – Não é que eu seja superior e
que vocês não possam ver. É uma questão de querer ver. Se você começa a
comparar a realidade com o discurso da Associação, você verá uma distância
abismal. Depois de passados tantos anos existindo, qual foi o legado cultural
efetivo que a Associação deixou? Parem para pensar e reflitam. Mas quando
refletirem evitem duas falácias recorrentes: misturar as ações da Associação
com suas intenções ou misturá-las com a doutrina que ela defende. Não há como
criticar as intenções ou a Doutrina, pois ambas as coisas refletem valores bons
e positivos. Entendam que uma coisa são suas intenções e a doutrina e outra
coisa totalmente diferente é a Associação - o meio que estes elementos possuem
para vir à realidade.
A – Acho que você só está
revoltado porque deve ter escutado algumas fofocas e burburinhos entre os
missionários ou na Internet, e acabou confuso e perdido...
H – Não me estranha que pense
assim, pois este é, precisamente, a explicação do Sr. Kwen Khan. Tudo para ele é:
“tal pessoa se deixou influenciar por dimes
y diretes”. O interessante é que esta seria a frase perfeita para explicar
todas as contradições da própria Associação: é o próprio Kwen Khan e todos seus
seguidores que se valem de dimes y
diretes para sustentar suas posições, ou seja, se valem de coisas
abstratas, que não vão ao cerne da questão: discursos idealistas, evasivas
doutrinais e enaltecimento de resultados pouco relevantes (livros editados,
templos, número de seguidores, etc.).
O que há que se comparar com os
fatos é o papel que a Associação se impôs. O objetivo da Associação não é
somente entregar a doutrina. Ela se colocou numa posição muito exigente: representar
um dos poucos veículos (único?) capazes de ajudar e transformar o mundo, de
selecionar e preparar o povo escolhido, etc. E isto não é qualquer coisa. E
a realidade? Isto está realmente acontecendo? Não há como negar que, na
prática, o que se têm é uma pobreza intelectual, cultural e espiritual. É um
movimento mundial incapaz de compreender o mundo - e muito menos a si mesmo-,
mas que se sente com suficiente poder e autoridade para agir nele e
transformá-lo.
A – Se você nega os propósitos da
Associação, você nega a todas as religiões, pois é isso que todas elas
propõem...
H – E por isso são chamadas de
religiões. As religiões são um conjunto de valores e ideias que se encontram
nas esferas da perfeição, para servirem de referência e guia para todos nós.
Mas é aí que entra a falácia em seus raciocínios que mencionei há pouco. Não há
nenhum problema vocês seguirem a religião (doutrina) gnóstica. O problema é
quando os valores doutrinais são confundidos com os da Associação. Isto feito,
a Associação se reveste com a roupagem da perfeição, que deveria existir
somente no mundo soberano dos ideais. Com esta aparência, a instituição – e seu
líder - ganha poderes extraordinários, capaz de reduzir a todos vocês à meras
ovelhinhas obedientes.
A – Ok! Você fala demais, mas
ainda não mencionou nada de concreto que pudesse incriminar a Associação. Eu
participo dela há muito mais tempo que você e nunca vi nada de tão grave que
mereça tanto alarde.
H – Vocês esperam que eu venha
com provas de crimes gritantes como assassinatos, roubos, abusos sexuais, etc.
Eu não me refiro a estes crimes materiais, que realmente nunca testemunhei, mas
sim à um crime mais oculto – e por isso mesmo raramente percebido -, de ordem
psicológica. O crime, em síntese, consiste em:
1 – Apresentar-se como causa especial, única capaz de realizar um bem maior, criando um sentimento de exclusividade, como se não houvesse outro lugar onde este bem pudesse ser buscado de forma tão eficaz e duradoura (ver meu artigo, “Doenças gnósticas: A exaltação imaginativa”).
2 – Aproveitar-se do prestígio adquirido para que todas as pessoas que “estão dentro” acatem todas as ordens e orientações sem pestanejar (ver meu artigo, “Lógica Branca e Lógica Negra”)
3 – Controlar o poder adquirido através de manobras de coação psicológica que vão desde críticas sutis à espetáculos de humilhação pública.
As consequências são evidentes em
todos integrantes: perda da autonomia; castração da inteligência; sentimento de
culpa e inferioridade; dificuldade de socialização com “os de fora” por razões
óbvias; dificuldades de socialização com “os de dentro” graças a pressão
ambiental causada pelas exigências sociais do meio; sentimento de não estar cumprindo
as propostas exigidas; isolamento; depressão e outros distúrbios psicológicos.
Eu vivi nesse meio, sei do que
estou falando. Se eu decidi sair da Associação foi porque, num primeiro
momento, vi toda hipocrisia existente em mim mesmo, em minhas ações. Só depois
de algum tempo é que caiu a ficha de que o meu sentimento era a miniatura do
espírito institucional, e que só cheguei naquela situação graças à influência
deste mesmo espírito.
A – Bom, que a Associação é um
dos únicos veículos ligados à Loja Branca, é verdade. Mas não vejo como isto
pode ser prejudicial.
H – Num ambiente de exaltação
imaginativa, o único que existe é a dança do orgulho e da vaidade. Todo um jogo
asqueroso de querer parecer uma coisa que não se é, uma busca incessante de se
alinhar às regras do jogo para conquistar a aprovação dos outros, que só faz
trazer uma série de circunstâncias negativas: panelinhas, intrigas, dissimulações,
fingimentos, decepções, humilhações...
Quando um valor não é preenchido
com a própria substância pessoal, de forma sincera, tende-se a criar um
invólucro falso para esconder a pobreza interior. Forma-se assim uma
personalidade postiça – neste caso, uma personalidade gnosticóide -, com sua maneira peculiar de pensar, agir, falar,
etc. Num ambiente onde há uma forte exigência pelas aparências, esta
personalidade é admirada por todos, pois é o elemento que alcançou a maior
proximidade dos valores defendidos. Assim, por imitação, os integrantes do meio
incorporam esta personalidade, que acaba se tornando, portanto, uma
personalidade social. É aí que começa o jogo de manipulação psicológica:
aqueles que se adaptam a esta personalidade social são apreciados e paparicados
pelos “de dentro”; e os que não conseguem se ajustar são mal vistos, atacados,
a todo momento, por críticas sutis, repulsas dissimuladas e embargos sociais. O
sujeito que ainda não vestiu os trajes oferecidos pelo grupo, mas que quer continuar dentro dele, começa a se sentir cada vez mais diferente,
estranho, complicado, não vendo outro remédio senão adaptar-se. Enfim o poder da
coletividade se impõe, minando sua integridade individual. Ele, por fim, se
entrega, não percebendo que o que está entregando é sua autonomia. Para dar um
brilho ao espetáculo, o sujeito, já incorporando o novo personagem – sua nova
personalidade –, comovido e com os olhos cheios de lágrimas, exclama: “Eu me converti! Eu me converti!”.
Digno de um Óscar! (com o perdão do trocadilho).
Não é à toa que o esporte
favorito dos gnósticos é criticar os outros gnósticos. Basta pintar uma
oportunidade onde se reúnem algum deles para começar: um a um, todo companheiro
(que está ausente no momento, logicamente) é lançado na roda das conversas para
receber seu veredito. Poderia se objetar dizendo que isto é feito só por
aqueles que “não fazem seu trabalho psicológico”, mas não é! Eu digo que os
piores são aqueles que estão na cabeça da Associação e até mesmo a própria
Cabeça da Associação. Quantas vezes presenciei estas cenas,
protagonizadas pelo próprio Kwen Khan e todos os seus “braços direitos”. No período
de uma refeição, palitavam os dentes e cuspiam julgamentos.
Só para citar um exemplo, uma vez que
estávamos todos à mesa, dentro dos limites “sagrados” do monastério, e depois
de alguns tantos passarem sobre a lupa crítica dos presentes, chegou a vez de
um senhor italiano. Este senhor havia acompanhado um grupo dissidente na Itália,
mas posteriormente voltou atrás e reintegrou-se à AGEAC. Então, uma senhora tomou
a palavra e contou que quando era celebrado o Congresso da Índia, pouco tempo
depois do retorno deste senhor à AGEAC, ele reencontrou um antigo companheiro
canadense com o qual realizou o curso de missionários e que não via há algum
tempo. Como era de se esperar, o senhor italiano foi ao encontro deste amigo
para cumprimentá-lo efusivamente. Mas para sua surpresa, não foi recebido com a
mesma alegria. Seu amigo se afastou e disse: “Não cumprimento traidores”.
Finado o conto, a senhora que o narrava, concluiu, se referindo ao senhor
canadense: “Este sim é um missionário fiel. Deveríamos ser sempre firmes assim
para dar o exemplo”.
Que tipo de amor pela humanidade
é esse? A quem querem ajudar agindo assim? Coloquem-se na posição do senhor
italiano por um minuto. Imaginem todo o esforço que teve que fazer, pisando em
seu orgulho, para voltar à AGEAC e participar de um evento onde teria que
enfrentar a todos com seus olhares insidiosos. Imaginem todo sentimento de
culpa e de remordimento que já carregava? Além de tudo isto, ele precisava
receber ainda outro julgamento externo - de seus “irmãos” -, para pulverizar o
pouco de dignidade e autoestima que lhe restara? Não tenho dúvidas de que ele
saiu dali pior do que entrou. Saiu se sentindo mais culpado, mais errado, mais
fraco... E o pior, mais dependente da Associação. Poderia sair como um Jean
Valjean, mas saiu como um Jean-ninguém.
Agora pergunto: e Kwen Khan,
presente ali na mesa, vendo todos com as pedras nas mãos, por acaso disse: “quem
de vocês não tiver pecado, atire a primeira pedra”? Nada disso... Ao contrário
balançava a cabeça afirmativamente como que aprovando todo o veredito.
Podem pensar que isto foi um
acidente ou um caso isolado, mas não é. É o comportamento habitual dos “de
dentro”. Não hesito em afirmar que são comportamentos como esse que mantém a
associação existindo, pois desfragmentam a personalidade dos integrantes,
deixando-os sem força alguma para reagir contra o que quer que seja, não
restando mais remédio que se esconder apavorados debaixo dos braços paternais
da Associação. E isto acontece não só na esfera social, mas também no âmbito
intelectual, estético, moral e espiritual. E é este tipo de coisas que odeio.
A – Quem é você para falar estas
coisas!? Moleque! Como se você tivesse uma alternativa melhor?
H – Não, não tenho nenhuma outra
alternativa! Graças a Deus! Prefiro confessar minha ignorância e incompetência.
A única coisa que tenho certeza é que dentro da AGEAC, o caminho é de perdição
e loucura. Não é porque tenho certeza de que um caminho é errado que tenho um
caminho melhor a oferecer. Não sou nenhum avatara, salvador ou guia. Só acho
que é melhor estar em dúvida do que estar convicto no erro. Afinal, o zero é
superior ao negativo, não é?
E moleque é a mãe...
O entrevistado deixa a sala. O entrevistador permanece sentado, roendo
as unhas, visivelmente abalado. Sente uma necessidade urgente de compartilhar o
conversado com os outros irmãos gnósticos, pois sabe que depois de alguma
conversa, a comunidade de sentimentos e de explicações estapafúrdias irá criar
uma atmosfera de comprovação intersubjetiva, dando consistência real aos seus diagnósticos
distorcidos e subjetivistas, legitimando, assim, seus discursos contra a
mediocridade e grosseria do entrevistado. E assim, submerso numa verdade
social, esquecem daquilo que mais pregam: a verdade pessoal e objetiva.
VIVEMOS EM UM PLANETA QUE CRUCIFICA CRISTOS!!!!!!!!
ResponderExcluirQue Cristos? Cristo, o Ungido, andou entre os mais necessitados, entre as prostitutas e os pobres de espirito, nunca proferiu ofenzas ou julgamentos contra ninguém!
ExcluirVeja o que os que se auto-proclamam "Cristos" dizem da humanidade atual, dos homosexuais, dos que buscam o espiritual em outras escolas, e verão que não existe nem um micro átomo do Cristo nessas pessoas.
ResponderExcluirQuando jesus disse isso "Na verdade, amais o que devíeis odiar e odiais o que devíeis amar” onde está escrito?