sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Os Guias e os Cegos

O truque mais sórdido da mentira ideológica é se fazer passar por verdade. Se fosse mentira pura e simples só seria capaz de reunir nada mais que meia dúzia de loucos, frustrados e imorais convictos. Mas se valendo da verdade, seu poder de persuasão se multiplica ao infinito, capaz agora de conquistar uma horda de defensores incondicionais. É se apresentando como o caminho para a materialização das mais nobres e puras aspirações humanas que o mal consegue encantar, ao tempo que ilude. Toda sua carga negativa fica sempre encoberta por detrás de uma promessa que, em si, é boa e bela.

Não há imagem melhor desta artimanha que aquela mencionada nos Evangelhos: o lobo com vestes de cordeiro. Mas um lobo é sempre um lobo, por mais que se esforce em camuflar suas ações, seu impulso animal ou mesmo um deslize acidental deixa transparecer, às vezes, seu real aspecto: feio e mal. São oportunidades únicas, mas autoevidentes. Mas nada que pareça deixar as mansas ovelhas desconcertadas por muito tempo. Já que o que se vê é somente a familiar cobertura alva e macia, torna-se inconcebível que tal agente, que prega tão lindos valores, possa praticar o mal deliberadamente.

Desta forma, toda ação substancialmente negativa é ignorada. Os fatos são negligenciados, através de uma série de reflexos autômatos, deixando o discurso ideológico como única referência válida para julgamento dos conflitos vigentes. Como o exaltado discurso – que sempre é bom e belo – é o que conta, o mal sempre se safa, saindo de todo embaraço com classe e elegância.

A repetição constante deste processo deixa o mal numa condição confortável. Acomodando-se à mansidão e obediência do meio, ele encontra terreno aberto para agir livremente de acordo com sua índole, suas ações vão se tornando cada vez menos brandas e dissimuladas para tornarem-se cada vez mais manifestadamente perversas e prejudiciais. Se não encontrar nenhum tipo de resistência, esta tendência continuará até que, finalmente, o mal seja completamente revelado. Coisa parecida com a atuação dos monstros marinhos nos contos antigos. Considerados mera invencionice popular, estes só podiam causar um apático temor infantil, já que ninguém conhecia realmente o objeto a ser temido. E eis que, quando menos se espera, eles surgem das profundezas. Frente a frente com a besta, fitando os olhos de Mefisto, contempla-se, por fim, toda sua macabra crueldade. Infelizmente, quando tudo parecer tão claro, é quando toda reação pode ser um tanto tarde.

Por causar agora danos demasiado graves e aberrantes, o público é obrigado a ver, desolado, a totalidade do espetáculo: não mais só a fábula agradável que se passa no palco, mas agora também a verdade contraditória que surge dos bastidores. No curso da História da humanidade presenciamos vários destes momentos críticos: guerras, ditaduras, golpes de Estado, revoluções, morticínios, campos de concentração... Todos estes episódios são os testemunhos fiéis da atuação lenta e traiçoeira do mal, através da mentira ideológica.

Há ainda aqueles que mesmo depois de passadas estas páginas negras da história insistem em atenuar os danos nefastos e enaltecer os aspectos positivos (as intenções, os projetos, as promessas). Estas pessoas estão aí para mostrar-nos o cúmulo do idealismo psicótico, nos servindo como medida máxima para aferir o nível moral e patológico do movimento em questão. Olhar para elas deveria causar-nos o mesmo arrepio que quando contemplamos um demente: temos pavor que sua desgraça recaia sobre nós um dia. 

Agora, se levássemos estes fatos ao tribunal de nossas consciências, quem seriam os culpados? Seria possível que um Hitler, um Stálin ou um Che Guevara conseguissem, sozinhos, fazer tanto dano? Toda aquela massa que os seguiam - sim, pessoas simples e trabalhadoras – se eximem desta culpa? E todos aqueles tantos que tiveram um mau presságio quanto ao rumo dos acontecimentos, mas não se esforçaram para saber mais? Ou ainda, todos aqueles que conseguiram vaticinar com certidão o futuro obscuro, justamente por estudar o rumo dos acontecimentos, mas nada fizeram? Colocados os pesos na balança não há como não acatar o veredito que condena tanto a uns – os guias – quanto aos outros – os cegos, os que não querem ver e os que mesmo vendo não se mexem. Afinal, a ferida só veio a sangrar graças à atividade sorrateira dos maus e a passividade letárgica dos bons.


Obviamente, suas penas possuem diferentes gravidades já que um crime é doloso e o outro, culposo. Aos primeiros, não há mais saída que o castigo e a esperança do arrependimento. "É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! (...) Tomai cuidado de vós mesmos. Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe". Aos outros, a pena é remida com conhecimento e postura. "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

As metas reais e superiores da existência humana não são para os fracos, tímidos e indolentes. Não é à toa que todo ensinamento verdadeiramente espiritual professado através das idades tem como objetivo básico equipar ao indivíduo com uma série de instrumentos de defesa de sua integridade e de desenvolvimento de sua autonomia. Sem uma sólida ascese espiritual que o faça discernir a verdade da mentira e, por conseguinte, que o force a se posicionar em favor  desta verdade, o homem se tornará um objeto inerme nas mãos das forças mundanas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Kwen Khan, El Gran Alquimista

Escrito está na doutrina gnóstica: “O ‘Gênesis’ é um livro de Alquimia para alquimistas, e é somente entendido no Laboratório da Alquimia. De maneira que mediante a Alquimia pode-se criar Homens verdadeiros, que sejam capazes de viajar de esfera em esfera, de mundo em mundo”.

Todo mestre gnóstico é um verdadeiro Alquimista. É capaz de escudrinhar os tratados esotéricos e ver aquilo que o homem comum não vê. Utilizando sua penetrante intuição, desvela os véus que encobrem o verdadeiro ensinamento. Logo, por misericórdia, transmite esta sabedoria à humanidade doente. E por amor à Verdade é capaz de desmascarar os traidores e desconcertar os tiranos. Vejamos este incrível episódio narrado pelo excelso, o V.M. Kwen Khan:


"(...) o que me tirou todas as dúvidas [sobre o ensinamento] foi o corpo lógico da doutrina, que é muito lógico. (...) Eu perguntei uma vez, a um cardeal (em uma entrevista numa rádio, onde estávamos um maçom, um rosa-cruz, um psicólogo, o cardeal e minha pessoa):
- Bom, tenho uma pergunta para o cardeal. Explique-me, considerando que Adão e Eva tiveram somente dois filhos homens, de onde viemos todos?   - E então ele saiu pela tangente:
- Bom, isso são coisas que pertencem ao mistério, ao dogma.
- Não, não, não! Vocês são uma religião e nos querem levar à Deus? Pois como nos levará dizendo que tudo são dogmas? Explique-me... 
E ele não pode responder. Perguntei ao maçom, tampouco; ao rosa-cruz, tampouco; ao psicólogo, menos. 
- Então agora me deixe explicar! – e expliquei.(...) Expliquei tudo e no final o cardeal estava assim [risos]. Foram duas horas de perguntas (...) E no final do programa, o diretor, perguntou ao cardeal: 
- E você como fica com todas estas coisas que diz a Gnose? - Então ele respondeu: 
- Não me resta admitir que devemos ser gnósticos da cabeça aos pés para entender o Universo – pelo menos foi honesto [sic!]

Que lógica arrebatadora! Ao pobre cardeal não restou mais remédio que se juntar ao seu oponente, para evitar sua humilhação pública. “Se não podes vencê-lo, junte-se a ele”, deve ter pensado o cardeal vencido. Não ocorreu ao coitadinho pegar a Bíblia e ler a seguinte frase:
Depois de haver gerado Set, Adão viveu oitocentos anos e gerou filhos e filhas. (Gênesis 5:4)
 Ou seja, o Todo-Poderoso Kwen Khan, profundo conhecedor da sabedoria alquímica e cabalística, nunca pegou numa única Bíblia para estudar. Se o tivesse feito, teria se dado conta que Adão e Eva teve filhos e filhas, além dos dois que são destacados na história (na verdade três; Kwen Khan não conheceu também à Set). 

Talvez seja por que seu terceiro olho vê aquilo que os pobres mortais não veem: coisas inexistentes! Aliás, todo o episódio por ele narrado parece muito fantástico para ser verdade: como pode um cardeal não saber disso? E o pior: como pode um cardeal dizer que todos “devemos ser gnósticos dos pés a cabeça”? Logo ele que, como católico, é contra a gnose...

Louvados sejam os seres divinos! Glória eterna à suas inteligências iluminadas! Lembradas sempre serão suas palavras, quando não para nos entregar preciosas lições, servem, ao menos, para causar-nos boas gargalhadas!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Doenças gnósticas: A EXALTAÇÃO IMAGINATIVA

Qual o sentido da vida? Porque estamos aqui? Estas questões corriqueiras, já tão gastas pelo uso, podem soar aborrecedoras ou mesmo oportunistas a muitos ouvidos, quando recebidas desde o mundo exterior. Entretanto, não há no planeta um único indivíduo vivo que, no silêncio de sua intimidade, possa permanecer indiferente diante de tão severas interrogantes, quando elas ressurgem de seu mundo interior. A busca de sentido é o impulso mais urgente da alma, que persevera em ver um significado superior em sua existência. Podemos aturar tudo, exceto a falta de sentido para a vida.

Para fugir da mesquinhez, do absurdo e da monotonia de uma vida sem sentido o homem cultiva dentro de si variada sorte de ideais. O ideal é a meta, age como um ímã que atrai nossas forças psíquicas à uma direção única, impulsionando nossos pensamentos, sentimentos e ações a trabalharem em sinergia para consecução do bem almejado. O ideal é o porto final a desembarcar, a Ítaca de Ulisses, onde se encontram todos os valores prezados à alma, que nos fazem acreditar que vale a pena enfrentar qualquer sacrifício ou desafio. 

Por todas suas características, o ideal deve sempre estar projetado no futuro, como algo ainda não alcançado, mas passível de realização. E para que as aspirações do homem possam se concretizar, transformando-se em atos e obras, são necessárias duas posturas correlatas: humildade e admiração. A humildade coloca o ideal em sua função e lugar exato em nossas almas, ou seja, ajuda-o a ser um referencial futuro que arbitra as situações do presente; a admiração nos incentiva a persegui-lo. Qualquer desobediência a essas duas premissas podem causar sérios danos à pessoa, às suas relações sociais e, pior ainda, desviá-lo do ideal mesmo. Um destes processos de desviação foi denominado pelo psicólogo Paul Diel de “exaltação imaginativa”. Vejamos os comentários do Prof. Olavo de Carvalho a este respeito:
A exaltação imaginativa é um estado em que a mente, embevecida com o seu ideal, se identifica mais ou menos inconscientemente com ele e atribui a si as perfeições que a ele pertencem, como se já as tivesse realizado. Para Diel, o símbolo por excelência da exaltação imaginativa é o vôo de Ícaro. As asas de cera representam a força da imaginação, que só pode elevar aos ares um corpo imaginário. O exaltado toma o potencial por atual, imaginando possuir as perfeições a que aspira. Por isto mesmo, sua alma experimenta, como num choque de retorno, um sentimento de estranheza e de impotência perante o mundo, que não cede, como ele esperava, aos seus encantos ou poderes. Acuado pelas exigências da realidade, ele exacerba ainda mais sua adoração de si mesmo diante de um mundo que ele julga vil, mesquinho e incompreensivo, quando na verdade é ele mesmo quem não compreende o mundo e, por não compreendê-lo, está impotente para agir nele. É a síndrome do "jovem incompreendido", que, pela simples razão de ter aspirações elevadas — ou que lhe pareçam elevadas — já se sente ipso facto superior ao seu ambiente e, portanto, limitado ou coagido pela mesquinhez real ou aparente dos pais, da escola, da sociedade, do emprego, etc. Nem sempre ele declara seu sentimento em voz alta; uma vaga intuição do caráter doentio do seu estado pode envolver este sentimento numa complexa rede de disfarces, atenuações e racionalizações muito difícil de deslindar. Também é certo que seu diagnóstico depreciativo sobre o mundo em torno pode ser, em si mesmo, objetivamente verdadeiro, sendo falso apenas o lugar e a função que ocupa na sua alma, já que a degradação do mundo lhe aparece, por vezes ao menos, como uma espécie de contraprova de suas próprias qualidades excelsas. Não raro o doente alia-se a outros jovens imbuídos do mesmo sentimento, em busca de apoio e confirmação de suas queixas contra o mundo. A comunidade de sentimentos e a repetição das queixas, criando uma atmosfera de comprovação intersubjetiva, parece dar consistência real ao diagnóstico distorcido e subjetivista que cada um dos membros do grupo faz quanto ao estado do mundo, legitimando seu discurso contra a mediocridade e grosseria das pessoas "de fora". "Estar dentro" do grupo é então sinal de uma espécie de eleição, a prova de uma qualidade excelsa e incomunicável. O sentimento de ter acesso a algo misterioso, profundo, especial, pode exacerbar a exaltação imaginativa ao ponto de provocar uma verdadeira ruptura com a realidade ambiente, incapacitando o indivíduo para o cumprimento dos deveres sociais mais elementares. 1

Esta é, precisamente, a doença que aflige, em maior ou menor grau, a todas as causas políticas, sociais e econômicas do mundo moderno. Seus membros passam a vê-las, por projeção, como manifestação concreta e atual daquilo que tanto aspiram. A causa termina por se confundir com o ideal defendido, usurpando deste os valores que se lhe são próprios. Sua estrutura material ganha, de tal modo, uma aura de autoridade, mesmo que seu conteúdo – notadamente, as pessoas – esteja longe de representá-lo.

Neste aspecto, as associações gnósticas são ainda mais pretensiosas, pois os ingredientes ditos espirituais potencializam a exaltação imaginativa. O fato de elas justificarem suas existências a uma suposta conexão e patrocínio do sagrado – seja de um homem iluminado ou da “Loja Branca” - lhes dá ares de beatitude. A associação se apresenta, portanto, como algo acabado, perfeito, e suas obras e diretrizes o reflexo cristalino dos desideratos divinos.

Os “saltos exaltativos” podem muito bem ser identificados nos discursos de cada um de seus membros que, hora ou outra, inflam os pulmões para afirmar:

a) “temos um corpo de doutrina completo que sintetiza toda sabedoria universal e dá respostas a todas as aflições humanas, sendo desnecessário buscar outras fontes de conhecimento, pois a prática do que já se possui é suficiente”. 2

b) “Somos a única associação verdadeira, aquela que conservou as tradições de forma pura e, por tal razão, tem mais capacidade de ajudar seus integrantes e a humanidade do que qualquer outra”.

c) “Somos o Exército de Salvação Mundial, os responsáveis por retirar as almas do materialismo e ignorância estanques para despertar suas consciências às suas possibilidades transcedentais”.

d) “Estamos conectados com a Divindade, representada pela “Loja Branca”, da qual recebemos orientação e suporte.

O membro da instituição que se deixa persuadir por estes discursos se sente, cada vez mais, autossuficiente em vários aspectos de sua vida. Se nos limitamos aos dizeres acima citados, temos, por exemplo, autossuficiência nos campos: intelectual (relacionado com o item a); social (item b); vocacional (item c); e espiritual (item d).

Cada característica exaltativa funciona como uma pátina ignominiosa que camufla a verdadeira essência da estrutura material defendida (uma escola, uma associação, um partido político) até transformá-la em uma miragem perigosa. Já não se discute sua grandeza pelo nível das pessoas que a compõem, pelas obras que realiza ou pelo legado cultural que deixa à humanidade. Ela é grande por si só, por sua própria vontade e decisão, como se o simples fato de existir já bastasse. Esta autoproclamação e autoafirmação soam como brados imperativos que reverberam no subconsciente de cada um de seus integrantes, estremecendo o seu senso da realidade. Quando se apercebe, ele já prostrado ante a instituição, seu ideal antecipado.

O desfecho do processo é perverso. A pessoa acaba por se sentir em um porto seguro onde crava seus pés profundamente já que a mínima possibilidade de se ver novamente no labirinto da vida o aterroriza. Ali teria que encarar novamente - sozinho! - dúvidas, crises, dificuldades e provações recorrentes. Tribulações que, de sua zona de conforto, são respondidas facilmente com um chavão ou frase feita característico de seu meio que, se escutados com atenção, soam mais como um suspiro de alívio. O sujeito se aferra a estes discursos vazios com tanto afinco pois são o mais próximo da imagem do ideal que sua mente entorpecida conseguiu alcançar.

É a eloqüência falastrona daqueles que perderam a fé no ideal. Embevecidos pela soberba já nada fazem para buscá-lo e, por mais que pensem que estão progredindo, não percebem que estão se emaranhando cada vez mais nos caminhos da confusão e do engano. Homem de pouca fé, porque duvidaste? Mais vergonhoso do que se afogar ao pisar em falso sobre as águas, é permanecer no bote salva-vidas sem se dar conta de que a fé, a vontade, a maturidade, enfim, a proximidade do ideal, só se alcançam, justamente, enfrentando o oceano do desconhecido; e de braçadas descoordenadas à gestos precisos, chegar a exercer sobre ele domínio e poder. 

Mas aos olhos da instituição, um ato de coragem, quando voltado contra ela, é tido como heresia. Por tal motivo só pode existir um antídoto para esta doença: dessacralizar o contingente e transitório para colocar os valores em seu devido lugar, ou seja, no mundo soberano do ideal. Quando acreditamos que há uma autoridade abstrata insuperável - seja moral ou espiritual -, acima de qualquer outro ente terrenal, regulamos nosso sentido da realidade e voltamos, assim, a ver o mundo de uma forma equilibrada.

1 - http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/ideais.htm
2 - Uma doutrina espiritual é, por definição, idealista. A crítica, portanto, não é à doutrina, mas aos seus defensores, que insistem em apresentar seu Ensinamento como uma tábua de salvação, sem ao menos compreendê-lo minimamente. Isso os torna incapazes de dialogar com outras idéias, pois tão logo elas aparecem são taxadas de inferiores ou incompletas.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Quem sou eu?



Meu nome é Hugo. Participei da AGEAC por mais de 10 anos, sete deles como difusor. Tempo suficiente para conhecer toda sua mentalidade alienante. Com a missiva abaixo, direcionada ao Sr. Oscar Uzcátegui (auto-proclamado V.M. Kwen Khan) , me despedi de vez desta instituição:


Escrevo esta mensagem para anunciar-lhe uma decisão, fruto de minha busca pela sinceridade.
A partir de hoje, já não faço parte da AGEAC. Não sou sacerdote, missionário, estudante e muito menos simpatizante desta instituição. O motivo de tão drástica decisão é a DESILUSÃO. Por muitos anos acreditei estar participando de uma causa sagrada, que poderia evadir-me da estreiteza da rotina pessoal e dar um sentido superior à minha vida.
Mas a simples identificação com uma “causa” não pode por si só enobrecer um homem. Quando vi que não tinha virtude suficiente para representar tão exigente “causa”, preferi sair de cena: interrompi as atividades da associação. Não me sentia bem realizando papéis que não conseguia preencher com minha substância pessoal. Realizava meus ofícios de forma oca, vazia, como um ator.
Até aí não havia nenhum grande problema: ainda reconhecia a “causa” como algo válido e verdadeiro. Caberia a mim somente abandonar o traje de artista e buscar desenvolver as virtudes necessárias para, um dia, estar à altura das circunstâncias de forma honesta e substanciosa.
Entretanto, as reflexões sobre minhas mentiras e contradições pessoais levaram-me a refletir sobre o meio em que estava inserido. Será possível que a debilidade que me aflige alcança também meus companheiros? Se todos sofrem do mesmo sintoma, não seria a associação um grande teatro, onde no palco principal se apresenta um espetáculo com belas e pomposas palavras: “liberdade”, “verdade”, “espiritualidade”; mas nos bastidores o que se vê é uma força alienante e perigosa que causa dependências, decepções e fanatismos?
A percepção de que a massa de pessoas que formam a associação é fraca sempre foi evidente para mim. Eu que, desde cedo, tive contato com as cabines diretoras, nos bastidores deste teatro, fiquei sabendo de muitas histórias, casos e acontecimentos que passam longe de ser enobrecedores ou dignificantes. Mas meu reflexo frente a estas situações sempre foi o mesmo de todos os meus companheiros: dizemos que o importante é o trabalho que está se fazendo desde os mundos internos, do qual somos simples instrumentos imperfeitos. Há que relevar a confusão temporária e contingente em função do bem maior e absoluto.
Naturalmente, frente a tantas contradições, o espinho da dúvida por vezes se revolvia deixando-me questionamentos profundos: não estaríamos exercendo todos uma autoridade para qual não temos competência suficiente? Será o corpo missional - miserável espiritualmente e pobre intelectualmente - o responsável pela “salvação mundial”? Não estaríamos negligenciando fatos negativos - físicos e concretos - em troca de uma dita promessa divina - desconhecida e misteriosa? Talvez Platão esteja certo: quando as pessoas começam a ocupar postos que não lhe condizem e não estão preparados para exercer, se instaura a desordem social, característica básica do mundo moderno.
No entanto, havia uma última evasiva em meu raciocínio e em meu coração: se a base e corpo da pirâmide institucional é incapaz, bastaria que seu topo – o dirigente maior – fosse um verdadeiro sábio, suficientemente maduro para orientar todo o exército de cegos a um resultado concreto. Afinal, este próprio dirigente se anunciava como sábio – um mestre! – que recebia orientações diretas da Inteligência Divina – seu próprio Ser e a Loja Branca. Coloquei todas minhas fichas em você, não por confiança, mas por amar uma coisa distinta da verdade querendo que isso que amava fosse a verdade. No entanto, como não queria enganar-me, mas ao mesmo tempo também não queria reconhecer que estava enganado, odiava a verdade por causa daquilo que amava em vez da verdade.
Por fim, fui buscar os fundamentos do respeito que tinha por ti. Estudei tua história, teus discursos, busquei as fontes de teu conhecimento, segui tuas pegadas... E logo, te inclui em um jogo para provar-te e testar-te com o intuito de verificar se a luz que refletes é por causa de tua densidade moral ou de uma simples projeção falaciosa. E, para minha surpresa, descobri toda a farsa: és um mentiroso, charlatão, impostor e hipócrita. A associação que construístes é uma mera continuidade de tua alma deformada: por traz das belas aparências se esconde o delito da falsidade. Falso profeta travestido em peles de ovelhas.
Fique sabendo que deixei de ser teu soldado para militar em uma nova causa: despir-te, mostrar a todos que querem, quem realmente és. Tenho suficiente informações e métodos para isso.
Agora só uma coisa pode interromper tua vergonha futura e inevitável: tua confissão voluntária e honesta, a todos que te circundam, sobre tua verdade. Não penses nas consequências imediatas de tal atitude, mas no compromisso com a verdade e no posterior perdão divino, duradouro e eterno.
Espero que reflitas sobre tudo isto. Aproveites estes instantes em que tens uma companheira - a doença - que te força à contemplação e revisão de tuas ações. “A verdade vos libertará”...e libertará a todos que te seguem.
Sinceramente,
Hugo 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quem é Kwen Khan?



Kwen Khan é um absurdo. É um espectro imaginário gestado na cabeça de um senhor que poderia muito bem se passar por Sancho Pança - se levássemos em conta sua fisionomia e a falta de sal na moleirinha -, mas que é, na verdade, a encarnação própria de Dom Quixote, tamanho o desvario de sua imaginação.

Kwen Khan é um tirano. Com suas aventuras fantasiosas vai desbravando o mundo a construir miragens que fascinam os incautos. Pudera, a julgar pelos seus discursos entusiastas e suas obras que aparentam pura filantropia, o andarilho desavisado, desapontado com a monotonia e falta de sentido de sua vidinha, prefere escapar do mundo real para se tornar coadjuvante do conto de fadas. Integrado ao roteiro, o novo personagem logo aprende as regras do jogo:  não há lugar para improvisações , o melhor é abandonar sua vontade própria e deixar o chefe reger sua atuação, intrometendo-se até mesmo nos pormenores de sua vida privada. O enredo – incluindo a moral da história - deve exaltar sempre os feitos do diretor-protagonista. A autonomia vai aos poucos se esvaindo até se reduzir a um espetáculo mecânico de prostrações contínuas, tal qual vaquinhas de presépio diante de um deus recém-nascido.

Kwen Khan é um mitômano. Se anuncia como entidade sagrada entre os homens, porta-voz da “Loja Branca” e de todos os habitantes do Paraíso. Suas ações e palavras presumem-se ser sempre meticulosamente arquitetadas, constituindo, neste mundo físico, a expressão perfeita dos desideratos divinos.

Kwen Khan é um idiota. Em grego, “idios” significa “o mesmo”. “Idiotes” ou “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pelo seus próprios critérios. Tudo que habita em suas fantasias é bom e certo, e todos os que querem nelas habitar são fiéis e idôneos. Todo o resto é negro.

Kwen Khan é um mentiroso. E o pior mentiroso é aquele que acredita em sua mentira. Persuadido por si mesmo, não precisa fingir, parecendo honesto. De tão convencido acaba por convencer a outros. E no final todos acabam enganados, não percebendo que toda esta mirabolante engenhoca é tão  só um moinho de vento.